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A NRF Retail’s Big Show 2024 faz jus a sua tradição de maior evento do mercado varejista mundial. Na 114ª edição, realizada em Nova York (EUA) em meados de janeiro, cerca de 40 mil profissionais de mais de 100 países acompanharam mais de 400 palestras e obtiveram insights e tendências para o comércio digital, varejo e experiência do consumidor.
Os assuntos de destaques foram retail media, inteligência artificial e novas tecnologias, geração Z e ESG. Esses temas são um reflexo das mudanças nas expectativas dos consumidores e das inovações tecnológicas que estão moldando o futuro das compras on-line.
Também foram discutidos temas como comércio unificado, a importância das lojas físicas como hub logístico e concierge, redução de custos para aquisição de novos clientes, estratégias para fidelizar os clientes, entre outros.
Nas últimas semanas, dois grandes players do varejo realizaram seus eventos pós-NFR para discutir esses assuntos: a Gouvêa Ecosystem e a Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Marcos Gouvêa, diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, fez uma reflexão sobre o varejo. “Há 38 anos, os líderes de varejo eram felizes e não sabiam. A oferta era muito limitada. Bastava abrir a loja e atender da forma correta. Hoje, temos um cenário de metacompetição e hiperglobalização”, disse.
Segundo ele, os omniconsumidores são ultraconectados e compram o que querem, onde querem, pelo preço que querem e ainda decidem como pagar. “Por outro lado, agora temos multicanais de venda, estratégias diretas ao consumidor e plataformas globais que tiram produtos lá da China e da Indonésia e levam para o interior do Rio Grande do Sul, por exemplo. Isso gera oportunidades que precisam ser valorizadas.”
Gouvêa destaca a importância do cross border, mas ressalta a necessidade de estimular as exportações. “É importante que venha de fora, mas também é fundamental que leve daqui para lá. Hoje, a China importa US$ 106 bilhões, um crescimento de 16,5% em relação ao ano anterior. Então, temos oportunidades”, disse.
Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem, palestrou sobre a polarização do consumo e do varejo. “Antigamente, tínhamos neste cenário apenas dois lados: as empresas orientadas a valor e as empresas orientadas à experiência. No entanto, houve a ‘crise do meio’, preenchida pelas companhias que não faziam bem nenhum dos dois lados. Hoje, este cenário mudou. Agora temos valor, experiência, solução e conveniência, a chamada Multipolarização 4.0. Para se ter sucesso, é preciso ser referência em um desses pontos, e quem está ganhando o jogo faz bem mais do que um desses polos”, explicou.
GERAÇÕES
Yamashita também trouxe um outro ponto que se complementa a esse novo cenário de multipolarização: o varejo de valor.
“O varejo precisa conquistar as gerações Z e Millennials. Eles escolhem onde querem trabalhar e o que querem consumir e, acima de tudo, valorizam a identificação dos produtos e marcas com seus valores, muito mais do que aspectos pragmáticos, como preço e custo-benefício. Eles querem saber se a empresa se relaciona com ética, se tem política envolvida, se há sofrimento animal ou abuso de recursos naturais que trazem impactos ambientais. Além disso tudo, ainda pretendem guardar dinheiro”, explicou Yamashita.
De acordo com uma análise da Nubimetrics, plataforma que empodera os sellers com dados inteligentes, em 2024 as pessoas estarão mais atentas nos marketplaces a produtos com selo eco-friendly, que privilegiem métodos de produção sustentáveis e com base em produtos recicláveis, e a artigos que privilegiem o autocuidado e a saúde mental. A tendência é observada, principalmente, em categorias como moda, papelaria, alimentos e fitness, em produtos como cápsulas de café reutilizáveis e cadernos inteligentes, por exemplo.
INTELIGÊNCIA ARTIFICAL
A aplicação de inteligência artificial enquanto catalisadora de processos foi o ponto forte das discussões. Defende-se que a IA gera mais produtividade e redução de custos, além da melhoria na jornada de compra.
Segundo os especialistas, aliar tendências de mercado a inteligência artificial para definir a melhor forma de comercializar produtos e fidelizar clientes são estratégias para garantir as vendas no e-commerce em 2024.
“Mais do que usar a tecnologia a seu favor, é preciso mostrar o papel que ela está exercendo e tornar esse valor visível para os consumidores. Isso se reflete em bons produtos, atendimento personalizado e alinhamento com os desejos dos consumidores”, avaliou Marcos Gouvêa.
Para William Santos, diretor comercial da VarejOnline, empresa especializada em tecnologia para gestão de lojas, franquias e pontos de venda (PDV), o uso da IA no Brasil ainda é tímido, mas a tecnologia deve ser mais explorada e receber maior investimento este ano.
“Já vimos grandes redes utilizando a IA para gerar dados sobre os hábitos de consumo dos clientes, com o objetivo de oferecer produtos e ofertas mais certeiros e até como assistente de compras.”
Ele acrescenta que a expectativa é que essa tecnologia alcance mais comércios, inclusive aprimorada dentro dos ERPs (Sistemas de Gestão Empresarial). “Trata-se de um sistema já conhecido entre os varejistas para personalizar a experiência de cada consumidor e gerar fidelização por meio da identificação de tendências de comportamento e antecipação de compras”, completou Santos.
O diretor da VarejOnline ainda aponta que a falta de recursos financeiros, especialmente para pequenos e médios varejistas, é um dos principais obstáculos para a adoção generalizada da IA no Brasil.
“A IA é uma tecnologia em ascensão e é possível vislumbrar que, em alguns anos, será mandatório no varejo, entrando no rol de essenciais do mercado. É importante que os varejistas explorem a IA aos poucos, entendendo como a solução pode impulsionar seu negócio, trazendo grandes benefícios em seu investimento”, conclui.
FRANQUIAS
Em seu tradicional pós-NRF Retail’s Big Show 2024, a Associação Brasileira de Franchising (ABF) reuniu especialistas para discutir as novas tendências internacionais para o mercado varejista e de franquias, além de seus desafios. E o ponto principal também foi o uso da inteligência artificial no varejo.
Tom Moreira Leite, presidente da ABF, ressaltou que o momento atual é de inflexão e como as soluções de inteligência artificial podem ser acessíveis nos negócios. “Mas, não podemos nos esquecer que todo o processo de inovação começa e termina com gente. Ou seja, por mais que a tecnologia otimize os processos no setor de franquias e nos seus respectivos segmentos, temos que entender que criar um ambiente onde as pessoas abracem a inovação sem receio de falhar é fundamental”, disse.
Para ele, a IA permite que as empresas criem experiências sem falhas e centradas no usuário, que impulsionem a satisfação do cliente e aumentem as conversões. Também é importante tornar as experiências do consumidor mais fluidas.
De uma forma geral, a IA capacita o comércio eletrônico intuitivo por meio de recomendações personalizadas, melhora a capacidade de busca, permite o aprimoramento do suporte ao cliente, garante segurança, insights preditivos e otimiza estratégias de precificação.
RETAIL MEDIA
Outra tendência para o varejo em 2024 é o crescimento do chamado retail media. Conforme a tecnologia e o comportamento do consumidor mudam, as áreas do marketing precisam acompanhar essa realidade. Ele se baseia em anúncios em espaços de varejo que buscam atingir o consumidor no momento certo e, assim, impactar a sua tomada de decisão de compra.
A principal diferença para as propagandas convencionais é que os dados utilizados nela para segmentar as ofertas são disponibilizados pelo próprio varejista e não por plataformas de publicidade terceirizadas, como ocorre com o Google Ads. Os dados coletados no retail media são de clientes que já estão cadastrados na plataforma de vendas do varejista e consentiram com o uso de suas informações.
Os varejistas têm reconhecido o valor e as oportunidades de publicidade mais direcionadas aos consumidores - seja em estabelecimentos físicos ou plataformas digitais.
“O retail media se junta à inteligência artificial para melhorar a experiência do cliente. É preciso saber usar as plataformas de tecnologia a seu favor. Só ter dados e só ter tecnologia não é suficiente para uma empresa sobreviver. É preciso ter inovação para experimentar”, destacou Cassiano Dias, responsável pela área de varejo e serviços da Mastercard Brasil, que estava presente no Retail Trends – pós-NRF da Gouvêa Ecosystem.
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